quinta-feira, agosto 17, 2006

Tenho pena de ti, meu rival.

Na memória, ainda trago viva a lembrança dolorosa de tua época de supremacia. Consternado em meu canto, assisti tua bandeira subir em mastros altos, puxando consigo nosso pendão gaúcho. Louvável. Admito. Porém, não posso negar que nunca me foi agradável o teu sucesso. Me incomodava de sobremaneira.

Enquanto colhia teus louros, eu contabilizava tropeços. Foi difícil. Mas minha torcida me ajudou. De buraco em buraco, insatisfeita ao extremo, minha gente unia forças e me fazia reerguer. Confesso que, sem eles, seria impossível. Mas eles são meus seguidores. E nada nem ninguém nunca nos separou. Nem eu mesmo sei o que lhes faz me colocar num patamar acima do divino. De me considerarem uma força suprema erguida às margens do Guaíba. Muitos me listam como prioridade máxima de suas vidas. À frente de suas famílias, à frente de sua saúde. Acordam e dormem pensando em mim. Orgulhosos, ostentam meu manto pelos pagos do mundo todo. É por eles que eu ainda existo. É pra eles que eu fui criado e serei eterno. Sou a centelha rubra dentro de cada coração. Sou o S, o C e o I entrelaçados sobre um vermelho de amor infinito.

Assim, sempre levantei minha cabeça. Enxuguei as lágrimas. Lambi minhas feridas. E segui meu caminho. Como o que não mata fortalece, hoje, sou gigante novamente.

E tu, meu rival? O que é feito de ti?

Tu, co-irmão, é o espelho de tua torcida atordoada. É o duplo de tua revoltada nação. Teus filhos renegam a pátria onde nasceste e querem se bandear pro lado de lá do rio. Esquecem nossa alma gaudéria e pedem emprestada a de outrem. Abandonaram nossa língua e entoam cantos que teus simplórios guerreiros não conseguem compreender. Historicamente mais abastados, dispensam suas posses para inutilmente atravancarem meu caminho. Mas sou irmão do poeta, meu rival. Eu, passarinho.

Nesse domingo, teu séquito delirou poder profanar meu templo. Acéfalos, se viram inundados por uma nuvem negra que os sufocava a alma. Uma fumaça de ódio e rancor, criada pela sua própria boçalidade. Eles desconhecem que minha morada foi erguida em suor e paixão. Meu povo me deu uma fortaleza pronta para cada guerra que o tempo me trouxe e ainda trará. Minha força não vem desse mundo, rival. Tua inveja pueril nada pode contra ela.

É hora de rever teus conceitos, velho rival. Note que para falar comigo, hoje, tu levantas a cabeça. Deve te incomodar, não? Eu imagino. A raiva e a inconformidade que vi de teus filhos deixou isso ainda mais cristalino. Te dou um conselho de co-irmão: esquece de mim. Olha para o teu umbigo. Saíste a pouco do inferno e ainda patina num umbral sujo e lamacento. Tua casa é tão velha e inóspita quanto a tua soberba secular. Te olha no espelho, meu rival. Onde estão o branco e o azul? Eu só vejo o negro. Lembra do teu passado. Já foste grande como hoje eu sou.

Tenho pena de ti, meu rival.

2 Comments:

At 11:33 AM, Anonymous Anônimo said...

Muito bonito!!
Mas é a famosa "gangorra" do futebol gaúcho... há pouco tempo atrás eram nós, gremistas, que sentiam pena do rival.
Boa sorte pra vcs, colorados, mas fico na torcida pelo Barcelona!! hehehe
Abraço!

 
At 11:41 AM, Anonymous Anônimo said...

Hahahahaha!!!! Saudações COLORADAS!!!!
E vamos rumo à Tókio!!!!
Adorei!!! De quem é o texto???
Bjinho

 

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